“muito dinheiro para Judas”


No início da semana, uma notícia vinda da Austrália, causou espanto pelo inusitado da situação: Uma milionária australiana deixou R$ 2,50 de herança para as filhas. Isso mesmo. A mulher, que morreu aos 81 anos, em 2009, de causas naturais, tinha uma fortuna equivalente a R$ 5,5 milhões, mas deixou para cada uma das duas filhas apenas R$2,50. Ela decidiu punir as herdeiras porque acreditava que conspiravam contra ela. Coisas que a ganância humana explica.

No testamento, feito por ela em 1987, a mulher registrou o desejo de deixar apenas “30 moedas do valor mais baixo” às filhas. E disse que a quantia era “muito dinheiro para Judas”. A australiana determinou ainda que as filhas fossem excluídas “de qualquer outro benefício”. Agora, as herdeiras querem provar que a mãe estava “delirando” quando escreveu o testamento, há mais de 20 anos. Elas entraram na Justiça alegando que tem direito a herança. Por enquanto, a fortuna deixada pela milionária está destinada a uma organização beneficente.

O episódio parece confirmar uma realidade que todos conhecemos: heranças são, frequentemente, motivo de disputa, conflito, desagregação familiar. Há algumas décadas, moças e rapazes queriam começar a trabalhar cedo, em busca de um sonho que já representou muito mais do que representa hoje: a independência. Hoje, dependentes e acomodados, muitos jovens estendem a adolescência até os 30 anos, numa prolongada Síndrome de Peter Pan. E mais: eles consideram a coisa mais normal do mundo continuar morando com os pais, com direito a casa, comida e roupa lavada na mãozinha. É a geração canguru que, quando se sente ameaçada pelos desafios próprios da vida, volta correndo para a bolsa da mamãe…

Quanto ao orgulho de se construir o próprio patrimônio… elementar meu caro Watson, nenhum problema ou constrangimento: tudo o que pertence aos pais já foi contabilizado como patrimônio dos filhos. O ovo ainda está naquele lugar da galinha, mas o filhão já conta com o omelete. E o papai, equivocado diz, com orgulho: tudo o que construí é dos meus filhos.

O problema é que alguns filhos estão com pressa e, baseados na lei do menor esforço, tal qual o filho pródigo da parábola, eles sugerem a partilha dos bens mesmo antes da morte dos pais. Se podem usufruir hoje daquilo que, mais dia, menos dia, será deles mesmo, para que esperar mais…?

Há até aqueles que brigam quando os pais resolvem viajar, namorar, curtir a vida, depois de dar duro para construir e consolidar um patrimônio. É a lógica dos herdeiros: como meus pais podem gastar o dinheiro que será meu? Daí para a exploração e a discórdia é um pulo.
Quem sofre? Os pais que, se erraram em não cobrar mais dos filhos, merecem, pelo menos, respeito pela história construída com o suor do próprio rosto. Aqui vale lembrar uma expressão jurídica que diz: “não existe herdeiro de pai vivo.”

E pensar que tem gente que considerou a tal australiana uma “mãe raça ruim”.
E por falar em australiana… É, canguru, ‘quem não te conhece, que te compre’…

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